Imigração e estabelecimento dos colonos

Seria difícil precisar quem foram os primeiros habitantes da localidade que hoje é o município de Guaramirim. Certamente foram os indígenas, pois aqui viviam indígenas dos dois grandes grupos linguísticos existentes no Brasil, o Macro-Tupi e o Macro-Jê.

Percorriam longos caminhos a pé, pois mantinham relações com outras tribos, realizavam um comércio rudimentar e travavam guerras, com motivações reais e outras rituais. Estes longos caminhos, os quais os indígenas percorriam, foram largamente aproveitados pelos portugueses e espanhóis quando aqui chegaram. O nome peabiru era dado a todos estes caminhos e vem da língua tupi; pe – caminho e abiru- grama amassada ou chão batido. Mas o que ganhou mais notoriedade acabou ficando conhecido como o único, trata-se do Caminho do Peabiru que ligava a Capitania de São Vicente (litoral do Estado de São Paulo) à cidade de Cuzco (no Peru).

Além desse caminho principal, o Peabiru possuía uma infinidade de ramais, o que fazia do Peabiru um caminho que ligava o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico. Uma destas ramificações passava pelo norte de Santa Catarina, mais especificamente por onde hoje é Guaramirim. É impossível apontar o caminho exato por onde estes indígenas, e depois espanhóis e portugueses passavam, pois estas rotas foram sendo pouco utilizadas com o passar do tempo.

Certo é que muitos passaram por Guaramirim até que se consolidasse a imigração europeia. Deduz-se que já na metade do século XIX havia moradores na região, pois consta que havia nessa localidade uma capelinha católica com o nome de Bananal e que era frequentemente visitada pelos padres de São Francisco do Sul. Ainda antes do estabelecimento colonial definitivo o engenheiro Emilio Carlos Jourdan atravessou parte de Guaramirim até alcançar Joinville.

Imigração e estabelecimento dos colonos

A situação conturbada da Europa, associada ao projeto político-econômico e racial de parte da elite brasileira, promoveu o incentivo da imigração para o Brasil à partir da década de 1840.Séculos antes, surgia na Europa uma igreja que, mesmo antes de Lutero, pregava a volta a um cristianismo primitivo, liturgia na língua falada pelos fiéis, padres casados, fim da troca do perdão por dinheiro (venda de indulgências) e da ideia de purgatório. Esta corrente religiosa ficou conhecia primeiramente como Hussitas, dado o seu fundador chamar-se Jan Hus. Após um período de perseguições esta igreja ressurge como uma vertente do protestantismo, ficando conhecida Igreja Moraviana ou Herrnhuter Brüdergemeine.

Espalhados por vários territórios de cultura germânica, a Irmandade Herrenhut designou em 1884 o Pastor Wilhelm Gottfried Lange para reunir alguns irmãos da diáspora (que haviam saído do território alemão) que se encontravam em Wolhynien, na atual Ucrânia, parte então do Império Russo. A comunidade evangélica liderada por Lange, motivada por uma onda de nacionalismo, que era extremamente hostil aos estrangeiros, principalmente aos não católicos ortodoxos, decide imigrar para uma terra onde pudessem formar uma comunidade nos preceitos da Herrenhut.

Foi assim que no dia 19 de maio de 1886 o Pastor Lange, acompanhado de mais 111 pessoas, subiram a bordo do vapor Buenos Aires, que fazia a linha Hamburgo-América do Sul. Chegando à Bahia. Desembarcam do vapor Buenos Aires em Salvador e após uma semana de espera embarcam no vapor Hamburg, rumo ao Rio de Janeiro e São Francisco do Sul. Desse porto vieram em uma pequena embarcação até Joinville e nas palavras do Pastor Lange: “Após 2 horas de viagem, chegamos na tarde do dia 29 de junho à agradável Joinville e pisamos no chão da nova pátria”.

Brüderthal: o início de Guaramirim

Wilhelm Lange foi o responsável pela compra das terras onde foi instalada a colônia, bem como pelo sorteio dos lotes entre os colonos. Preocupou-se desde o começo em preservar a história da comunidade, não só pelo seu trato com as letras como pelo projeto de comunidade fraternal que possuía e que o guiou até estas terras.

Um barracão logo foi erguido no quilômetro 18 da Estrada do Sul, na localidade, hoje, encontra-se a Igreja Luterana, às margens da SC-413, a rodovia do arroz. O nome, Brüderthal (Vale dos Irmãos) refletia a filosofia religiosa que guiava a comunidade, assim no dia 5 de outubro, dia da “festa da comunidade” desde os tempos de Wolhynien, era inaugurada a Casa de Deus. A partir de então a comunidade cresceu e prosperou.

No texto em que narra sua vida, chamado “Narrações Confidenciais de Minha Vida”, Lange conta que permaneceu em Brüderthal de1886 a1896. Aqui casou, com Claire Reuge, uma professora francesa da mesma religião e que viera da Alemanha após decidido o noivado por carta.

É importante ressaltar o valor que Lange dava aos estudos; menos de dez dias depois da inauguração da comunidade de Brüderthal foi criada uma escola; o agora, também, Professor Lange fez questão de registrar em seu testemunho esta data: “No dia 13 de outubro eu iniciei a escola, com 24 crianças”.

Doubrawa, a outra margem do Itapocu

Localidade de Itapocuzinho I, hoje bairro Imigrantes, em 1893 | Foto: Biblioteca/Arquivo Histórico de Guaramirim

À oeste uma outra parte do território que viria a ser Guaramirim se desenvolvia. Gustavo Doubrawa, com outros imigrantes davam início à região-localidade de Itapocuzinho 1 (hoje Bairro Imigrantes).

Nesta região também foi erguida uma escola, no ano de 1891. Gustavo Doubrawa que era professor, nela lecionou por sete anos. Nessa região foi construído o barracão no qual permaneciam os imigrantes que chegassem trazidos pela Sociedade Colonizadora de Hamburgo, aí ficavam até construírem suas casas.

Foi aí que se instalou a sede da localidade, então Itapocuzinho I, ficando junto à escola do Prof. Doubrawa e do comércio de Johann Gottlieb Stein. Esse comerciante possuía também um porto às margens do Rio Itapocu. Este foi o primeiro porto ribeirinho, serviu para transporte de homens, mantimentos, cargas e víveres.

Pontes e Ferrovia

Na localidade do Itapocuzinho I, foi construída a primeira ponte, estima-se que no ano de 1891. Sabe-se pelo relato de Paulo Kraemer, que esta ponte já existia em 1893. Relata Kraemer que vindo do Brüderthal em direção ao atual bairro Rio Cerro de Jaraguá do Sul – na altura do Curtume Schmitt (quase em frente ao Arquivo Histórico daquela cidade) – que esta ponte já existia. Ao lado desta ponte, em 1910, foi construída a ponte ferroviária, por onde ganhava acesso a Guaramirim a linha que ligaria o planalto do norte catarinense, pelo município de Porto União, até a Ponta dos Ingleses (São Francisco do Sul).

A estação ferroviária, construída em 1910, o que provoca um deslocamento da centralidade e pouco tempo depois a mudança da sede, do Itapocuzinho I para onde hoje é o centro de Guaramirim.

Núcleo Colonial Barão do Rio Branco

Desfile de 7 de setembro, em 1918; ao fundo, primeira capela do Núcleo Rio Branco | Foto: Biblioteca Pública Municipal/Arquivo Histórico de Guaramirim

Durante o governo Hermes da Fonseca é criado, em 1913, o Núcleo Colonial Barão do Rio Branco (em homenagem ao famoso diplomata, falecido um ano antes). Para a instalação do núcleo colonial foram realizados levantamentos topográficos e a área de quase 40 mil metros quadrados, foi dividida em 198 lotes rurais, espalhados por seis seções: Estrada Geral, Ponta Comprida Norte, Ponta Comprida Sul, Vicinal Rio Branco (Novo Tibagi), Jacu Açu e Palmital.


Casa do senhor Rodolfo Tepasse, na rua 28 de agosto, em 1924, onde mais tarde foi o Banco Inco, depois HSBC e hoje Bradesco | Foto: Biblioteca Pública Municipal/Arquivo Histórico de Guaramirim

Dentre os primeiros habitantes estão imigrantes da família Radatz, alemães e Graudin, leto-russos, logo após vieram outros imigrantes, estrangeiros e nacionais. A partir de 1914 houve também um fluxo de migração vindo do oeste, dado o final da Guerra do Contestado. Vieram aproximadamente 100 pessoas daquela zona de conflito e que haviam lutado ao lado do exército do Monge João Maria, já bastante convalescidos ao chegar, morreram muitos deles.

Uma das figuras exponenciais do Núcleo Colonial Barão do Rio Branco é Cantalício Érico Flores. Era farmacêutico, professor, subdelegado, administrador e chefe do Núcleo. De religião presbiteriana, Cantalício era uma das pessoas mais instruídas da região, tendo, por isso, exercido tamanha variedade e quantidade de cargos públicos. Foi ativo politicamente até sua morte em 1970. Um retrato vivo do Núcleo Colonial no começo do século XX encontra-se no livro “Memórias de um menino pobre” de Norberto Silveira Júnior.

Distrito de Bananal

Em 2 de junho de 1919, por meio da resolução nº. 281 do município de Joinville foi criado o 4º Distrito de Bananal. O nascente distrito abrangia, além da região que hoje é Guaramirim, parte das localidades de Schroeder e Massaranduba.

O primeiro intendente distrital só foi nomeado em 19 de março de 1921, o senhor Agostinho Valentim do Rosário. Em 1º de dezembro de 1938 o distrito de Bananal foi elevado à categoria de Vila.

Enfim, Guaramirim

Em 30 de dezembro de 1948, através da Lei nº. 247, foi criado o município de Massaranduba, compreendendo terras dos municípios de Blumenau, Itajaí e Joinville; sendo instalado em 13 de fevereiro de 1949.

Festa da Banana, década de 1980 | Foto: Biblioteca Pública Municipal/Arquivo Histórico de Guaramirim

O descontentamento, principalmente por parte do povo de Bananal foi expressivo. Acreditavam os moradores que a cidade deveria ser a sede e ter Massaranduba como distrito, e não o inverso, como havia sido feito. Após alguns meses de intensa negociação política, veio a Lei nº295 de 18 de agosto de 1949, esta transformava Bananal na sede do novo município, passando agora a se chamar Guaramirim.

A instalação ocorreu no dia 28 de agosto de 1949, tendo sido nomeado como primeiro Prefeito o senhor José Mota Pires. Logo depois, foi eleito Emílio Manke Junior, com este já democraticamente empossado a cidade recebeu das mãos do Prefeito de Joinville, João Herbert Érico Colin, os documentos de emancipação política do município.